publicado originalmente na Folha.com
O iPad do professor Ivan*, 41, não é da terceira geração, mas foi caçado
como se fosse o último lançamento da Apple. O aparelho foi roubado
quando ele chegava em casa, na região de Moema (zona sul de São Paulo),
na noite de domingo (11).
Sua sorte foi ter um instalado um aplicativo que rastreava o aparelho em
qualquer lugar. O azar foi ter encontrado tanta dificuldade que não
conseguiu recuperá-lo.
O assalto ocorreu por volta das 21h15, quando o professor chegava de
táxi do aeroporto de Congonhas. Um bandido armado o abordou logo após
descer do veículo e pediu sua mochila, que, além do iPad, tinha um
laptop. O bandido ainda levou seu relógio e R$ 300.
Ivan acionou a polícia pelo telefone 190 e uma patrulha chegou a
percorrer com ele ruas da região, mas o assaltante não foi encontrado.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
De volta a sua casa, o professor se lembrou de um aplicativo de
rastreamento --o Find my iPad. Pelo iPhone, que estava no bolso e não
foi levado, Ivan localizou o aparelho roubado e começou a acompanhar seu
deslocamento pelas ruas.
"Nunca pensei que seria assaltado, instalei o aplicativo para o caso de
perder o iPad em casa", disse. Ele ligou novamente para a polícia e teve
início sua peregrinação.
Uma patrulha foi para sua casa mas, ao serem informados sobre o local
onde estava o aparelho --av. Nove de Julho--, os PMs disseram que não
poderiam interceptar o suspeito porque ele estava fora da área de
atuação.
A orientação foi para que ele pegasse o carro, chegasse próximo ao
local, e procurasse policiais que estivessem na região. O professor
chegou a fazer isso, mas, quando encontrava uma viatura, o aplicativo já
indicava outro local.
Frustrado, ele voltou para casa e passou a acompanhar a andança de seu
tablet pelo computador. Viu a tela mostrar vias como a avenida dos
Bandeirantes, rua Vergueiro, marginal Tietê, até o sinal parar dentro de
um condomínio no bairro Taboão, em São Bernardo do Campo (Grande São
Paulo), à 0h12.
Ele conta ter ligado para a PM diversas vezes, mas nenhum atendente
conseguiu resolver seu problema. "As orientações eram conflitantes, cada
ligação era uma coisa mais descabida que a outra. Me senti desamparado
pelo Estado", afirma.
O professor desistiu do 190 e passou a buscar no Google telefones de
delegacias. Em uma das ligações madrugada adentro, um policial informou o
celular de um PM, que chegou a ir até o condomínio do suspeito. Mas a
resposta para Ivan foi de que sem mandado judicial não poderia fazer
nada.
Já na manhã de segunda-feira, Ivan procurou a delegacia mais próxima do
condomínio para pedir novamente ajuda. No caminho, encontrou outra
equipe da PM e relatou seu calvário. Os policiais chegaram a
acompanhá-lo até a porta do condomínio, conversaram com porteiro e
vizinhos, mas também disseram não poder fazer nada.
De volta ao 7º DP de São Bernardo, o professor registrou a ocorrência e
deu o endereço do condomínio. O suspeito foi detido na rua, e, levado à
delegacia, foi reconhecido.
O final, porém, ainda está longe. Testemunhas que viram o assalto não
compareceram à delegacia para reconhecer o suspeito. As imagens da
câmera do prédio também não chegaram a tempo.
"Sem elementos mais convincentes, nenhum juiz vai expedir um mandado de prisão", avaliou o delegado Ivo Fontes, do 7º DP.
O suspeito, que já tem passagens pela polícia, foi liberado após ser
indiciado sob suspeita de roubo e vai responder pelo crime na Justiça.
À polícia ele negou o assalto e disse que no horário informado pelo
professor estava com um amigo em outro lugar. O amigo não foi à
delegacia confirmar a história.
Ivan diz acreditar que seu iPad nem esteja mais na casa do suspeito, e
que já desistiu de recuperá-lo. Vai comprar outro na próxima viagem ao
exterior.
OUTRO LADO
Procurada, a Polícia Militar afirma que o 190 prima pela qualidade e que
seu objetivo "é atender bem o cidadão e o envio rápido de uma viatura
se for necessário".
Sobre o caso do professor, a corporação informou que precisaria do telefone ou endereço dele para apurar os problemas relatados.
Em situações semelhantes, a orientação da PM é que a vítima procure o
190 e que os policiais podem ir a qualquer local indicado por ela.
*O sobrenome foi omitido a pedido da vítima
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