Ben Horowitz, famoso investidor do Vale do Silício, encontra no rap lições valiosas para empreendedores de tecnologia
Publicado originalmente no New Tork Times [via iG]
À primeira vista, o Vale do Silício, onde engenheiros escrevem códigos vestidos com calças de algodão cáqui, pode não ter muito a ver com o rap, estilo musical em que artistas vestidos com calças abaixo da cintura escrevem letras irreverentes.
Porém, Ben Horowitz, famoso investidor de risco daqui, diz que o rap guarda um tesouro de lições para empreendedores tecnológicos. Horowitz manda jogar pela janela as aulas e livros de negócios e ouvir as letras de rap.
Ele aplica essa teoria num blog, que atraiu leitores de tecnologia e outros executivos oferecendo lições de negócios, quase todas precedidas por uma letra de rap que resume uma moral, e gravações do site musical Grooveshark. No processo, ele uniu duas culturas do Vale do Silício, que não é exatamente conhecido pela diversidade racial ou cultural.
Empreendedores podem se dar bem ouvindo o conselho de Horowitz. Ele abriu a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz com Marc Andreessen, um dos fundadores da Netscape, que ganhou rios de dinheiro com investimentos em companhias como Groupon e Skype, e deve ganhar ainda mais com o lançamento das ações do Facebook. Em janeiro, a empresa anunciou que formara seu terceiro fundo em três anos, US$ 1,5 bilhão em dinheiro novo, uma quantia alta até mesmo no Vale do Silício. Antes, os dois homens haviam fundado a Opsware, companhia de software para data centers, e vendido a empresa para a Hewlett-Packard em 2007.
Horowitz usa o rap como introdução enquanto filosofa sobre desafios comerciais como, por exemplo, demitir executivos, por que os fundadores tocam a empresa melhor do que um CEO de fora e como enfrentar diretores difíceis.”Todos os livros de administração são assim: ‘É assim que você determina os objetivos, é assim que se cria um organograma’, mas essa é a parte fácil da gestão”, Horowitz disse durante entrevista no seu espaçoso escritório em Sand Hill Road, o epicentro do investimento em tecnologia. “A parte complicada é como você se sente. O rap me ajuda a me ligar emocionalmente.”
Por exemplo, como lidar com o nervosismo de última hora causado pelo infortúnio da auditoria no fim da noite que quase impediu a venda de US$ 1,6 bilhão da Opsware?
Escute a música “Stronger” de Kanye West: “Como o que não mata, engorda/Preciso que você se apresse/Porque não posso esperar mais/Sei que tem de ser agora/Porque não tem como dar mais errado”.
Boa parte do rap é sobre negócios, quer seja com drogas, a indústria da música ou a ética do trabalho, disse Adam Bradley, professor adjunto especializado em literatura afro-americana da Universidade do Colorado, campus de Boulder, que escreveu “Book of Rhymes: The Poetics of Hip Hop” (O livro das rimas: a poética do hip-hop) e coeditou “The Anthology of Rap” (A antologia do rap), ambos inéditos no Brasil.
“Isso tem a ver com o fato de que o rap é um modo de expressão direto, talvez mais do que qualquer outro tipo de letra musical, por causa da ênfase na linguagem, das palavras acima da melodia ou harmonia.”
Segundo ele, as pessoas pensam que as letras de rap só falam em dinheiro, mulheres, status e cocaína, mas os temas mais difundidos sob toda a fanfarronice são relevantes para os negócios, tais como liderança, colaboração e a vulnerabilidade.
Horowitz disse ter feito essa descoberta no começo dos anos 80, quando foi apresentado ao rap como um dos poucos jogadores brancos do time de futebol americano da Berkeley High School. Ele passou a usar letras para ilustrar suas ideias quando virou CEO.Por exemplo, recentemente, um dos empreendedores que a Andreessen Horowitz financia entrou em choque com um afrontoso membro da diretoria. Horowitz contou ao executivo de que ele estava sendo respeitoso demais e que precisava mostrar força. Ele mandou ao executivo “Scream on Em”, rap de The Game, por causa da letra muito agressiva; tão agressiva que nada pode ser impresso num jornal de família.
“Eu não teria conseguido explicar direito o que queria dizer, mas ele ligou e disse que estava ouvindo aquela música todo dia e as coisas estavam melhores.”
Quando explicou no blog por que sua empresa preferia um CEO fundador, em oposição aos contratados para gerir companhias, ele teve problemas em explicar uma das razões mais sutis _ as pessoas se preocupam mais com algo que abriram, já quem vem de fora se interessa mais pelo dinheiro.
Depois ele se lembrou de uma letra de Rakim para a música “Follow the Leader”: “Você é um rapper de aluguel, suas rimas são banais/Estarei aqui para vê-las murchar quando você surtar feito um renegado”.
Horowitz disse que “por ser do Rakim, o maior rapper de todos os tempos, ele soube explicar em duas frases o que eu levaria três páginas para explicar”.
Horowitz disse que “por ser do Rakim, o maior rapper de todos os tempos, ele soube explicar em duas frases o que eu levaria três páginas para explicar”.
Ele tem uma resposta simples para quem afirma que o Vale do Silício está no meio de outra bolha, inclusive para aqueles que criticaram os grandes investimentos de sua empresa por terem desempenhado um papel ao inflar a bolha. É a música “Going Back to Cali”, de LL Cool J: “Vou voltar pra Califórnia… hum, acho que não”.
“O lance é como ele disse _ ‘hum, acho que não’ _, que tem a ver com o que eu sentia sobre esse papo de bolha.”
O uso do rap por Horowitz liga duas culturas raramente conectadas. Os afro-americanos detêm somente 6,7 por cento dos empregos de informática, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, e sua representação entre os empreendedores do Vale do Silício é ainda menor.
No outono passado do Hemisfério Norte, as postagens de Horowitz o levaram a comparecer ao Congressional Black Caucus, que reúne os congressistas negros. Ele falou ao grupo sobre como a internet junta culturas diferentes e acerca do papel que os afro-americanos desempenharam na mídia social e tecnologias móveis.
O Vale do Silício “pode deixar um monte de gente do lado de fora só olhando”, disse Jason Lee, leitor do blog que ajudou a organizar o painel e é filho da deputada Sheila Jackson Lee, democrata do Texas, pertencente àquele grupo.
“O fato de ele começar com uma letra relevante de hip-hop contextualiza imediatamente a narrativa em algo familiar e acessível às pessoas com uma ampla variedade de experiências. À medida que mais pessoas leiam seu blog, se identifiquem com as publicações e se vejam nas situações que descreve, mais pessoas sentirão que o Vale do Silício tem lugar para elas.”
Foto: Peter DaSilva/The New York Times
capturado no Pavablog
Nenhum comentário:
Postar um comentário